Vivemos numa época diferente, as nossas crianças e jovens passaram dois anos em casa, com receios, incertezas, com pais preocupados, e em que a casa foi local de estudo e de trabalho, trazendo em algumas famílias uma aproximação, mas noutras o aumento de conflitos.
O período de encerramento das escolas significou novas barreiras ao desenvolvimento social, psicológico e educativo, das crianças e jovens, agravando situações de desigualdade já existentes e colocando em causa dimensões fundamentais da sua vida (como a quebra de rotinas, brincadeiras e contactos sociais);
O impacto da COVID-19 no bem-estar e na saúde mental não é totalmente conhecido, no entanto são já diversos os estudos desenvolvidos de forma a permitir o desenvolvimento de estratégias preventivas.
Grande parte dos estudos indicam que para além do impacto que a COVID-19 na saúde física é importante estar atento à saúde mental, especialmente ao stress, sintomas de ansiedade e de depressão.
É evidente, na nossa prática clinica, um aumento significativo de crianças e jovens com sintomas depressivos. Há que ter em conta que sendo a mesma patologia, cada criança ou adolescente vivencia os sintomas de forma diferente tendo um impacto diferenciado para cada um. Este é um dos fatores que se deverá ter em conta na realização de diagnóstico e respetiva intervenção.
Surgem sinais de alerta que os pais e professores deverão estar atentos:
- Humor depressivo
- Perda de interesse ou prazer em atividades que antes gostava
- Perda ou aumento de peso
- Lentidão ou agitação motora
- Fadiga e falta de energia
- Sentimentos de culpa ou desvalorização
- Dificuldades em concentrar-se
- Pensamento de morte recorrentes
Nas crianças mais novas a existência de birras frequentes poderá ser um sinal de alerta.
A ter em conta, e pelo facto de existirem diversas perturbações de humor, a existência dos sintomas seguintes poderá significar a existência de uma Perturbação de Desregulação de Humor Disruptivo:
- explosões (“birras”, falta de controlo da raiva ou frustração) temperamentais graves e recorrentes. Estas explosões podem ser verbais e/ ou comportamentais, e desproporcionadas em intensidade ou duração
- explosões temperamentais são inconsistentes com o nível de desenvolvimento
- explosões temperamentais ocorrem em média 3 ou mais vezes por semana
- o humor entre as explosões temperamentais é persistentemente irritável/zangado, durante a maior parte do dia, quase todos os dias
Estes sintomas deverão estar presentes em 2 de 3 contextos em que a criança esteja inserida; sintomas presentes em 12 ou mais meses; inicio dos sintomas entre os 6 e 10 anos e nunca depois dos 18 anos.
Uma sinalização rápida da sintomatologia significa uma mais rápida e eficaz intervenção, que deverá implicar todos os agentes educativos, com especial atenção os pais, de forma a ajudá-los a lidar da melhor forma com a situação. Por vezes, torna-se necessária uma terapêutica farmacológica em complemento com uma intervenção psicológica.
Drª Inês Camacho, psicóloga Clínica e Educacional da kids and Teens.
Kids and Teens – Clínica de especialidades pediátricas, Lisboa
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